Fevereiro 2018

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A Doença de Alzheimer e a avó M.

on 26 Fevereiro, 2018

A avó M. foi diagnosticada com Alzheimer em agosto de 2012, tinha na altura 77 anos. Era uma mulher cheia de vida e todos os dias tinha a casa cheia à hora do almoço.

Os primeiros sinais da doença foram de tal forma subtis que toda a família considerava ser da idade. Eram esquecimentos inicialmente tão insignificantes que, para todos, eram apenas esquecimentos… ora era o tempero da comida, ora eram datas de aniversários dos netos mais novos, depois a dificuldade em recordar uma conversa que tinha tido com as filhas ou onde tinha guardado o dinheiro… depois esquecera o fogão ligado.

Às vezes M. esquecia os dias da semana, mas como ela dizia “é normal, os dias para mim são todos iguais”. Para M. era o cansaço, até porque ultimamente dormia pouco. Não havia qualquer preocupação por parte de M. relativamente ao que se passava.

Efetivamente M. negava ou minimizava as suas incapacidades. Pouco meses antes do diagnóstico M. não se lembrava que a sua neta mais velha ia casar. Com o tempo a família foi notando ainda ligeiras alterações no seu comportamento e na linguagem. M. sempre fora conservadora e nunca admitiu faltas de educação. No entanto, M. tornara-se desinibida e com “deslizes” no comportamento que não eram expectáveis. Muitas vezes M. perdia o fio à conversa e começava a divagar. A capacidade de atenção foi diminuindo e a apatia foi-se instalando. M. perdeu o interesse por atividades até então prazerosas como ler ou ver televisão.

Atualmente M., apesar de realizar algumas das atividades de vida diária com alguma autonomia, necessita de supervisão e já não reconhece alguns membros da sua família nuclear. Talvez este seja o aspeto mais chocante para a família.

De facto, a Doença de Alzheimer (DA) tem início insidioso e progressivo, dificultando a perceção da instalação do quadro clínico pelos familiares. Os doentes com DA sofrem, habitualmente alterações em diferentes domínios cognitivos, nomeadamente memória e capacidade de orientação, raciocínio e pensamento abstrato. Esta doença caracteriza-se, numa fase inicial por défice de memória episódica e por défice da capacidade de recordar nova informação.

Posteriormente, surgem dificuldades na memória semântica como a anomia, agnosia e fluência na linguagem. A memória remota e autobiográfica também é afetada, sendo que, habitualmente quanto mais antiga a memória, melhor preservada.  São ainda características desta doença, entre outras, a desorientação espacial e temporal, alterações da linguagem, dificuldade na resolução de problemas, alterações de personalidade e perturbações do humor.

Considerando o impacto desta doença no funcionamento do indivíduo no desempenho das atividades de vida diária e, consequentemente, no funcionamento familiar a reabilitação neuropsicológica surge como a intervenção mais adequada para maximizar as funções cognitivas, bem como, reduzir ou colmatar os défices resultantes da progressão neurodegenerativa da doença.

Existem diferentes técnicas para reabilitação, nomeadamente da memória. Estas podem ser usadas isoladamente ou de forma complementar, sendo que a seleção e aplicação de cada técnica deve considerar, entre outras, o tipo de patologia, o grau de severidade e as habilidades residuais mantidas/preservadas.

Pretende-se, assim uma intervenção individualizada, centrada no doente e focada na realização das atividades de vida diária.

Não adie o pedido de ajuda. A intervenção atempada faz toda a diferença em termos da preservação das capacidades e do bem-estar próprio e de quem cuida. Estamos disponíveis para esta intervenção com o doente, mas também para ajudar as famílias a lidar com todo este processo. Marque a sua consulta!

À avó M.!

Ana

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Concentração nas crianças

on 19 Fevereiro, 2018

Muitas têm sido as vezes que nos chegam ao consultório crianças que são identificadas na escola como tendo dificuldades de concentração.

Cada caso é um caso e temos sempre de analisar se há algum outro problema associado a essa falta de concentração.  No entanto, muitas vezes consegue-se resolver, ou pelo menos diminuir esse problema de falta de concentração, utilizando algumas estratégias.

  1. A maioria das crianças e adolescentes concentra-se melhor depois dormir o tempo necessário e com a qualidade necessária, por isso garanta que o seu filho dorme cedo.
  2. É importante ter algum cuidado com a alimentação, sabe-se que uma alimentação muito à base do açúcar influencia negativamente  a concentração, ficando muito mais agitados.
  3. Retire tudo o que pode distrair a criança quando está a efectuar uma determinada tarefa. Por exemplo, a mesa onde estuda deve apenas ter o material que a criança necessita.
  4. É importante não ter material a mais na mesa onde vai realizar determinada tarefa, mas ter o essencial. Isto para evitar estar constantemente a levantar-se para ir buscar material, pois nessas pausas perde a concentração.
  5. O local onde realiza determinada tarefa deve ser silencioso, e num local onde a criança não veja outro tipo de objectos que lhe suscitam mais interesse. O excesso de estímulos é inimigo da concentração infantil.
  6. A criança deve fazer uma tarefa de cada vez, só quando termina uma é que deve seguir para a seguinte. O multitasking não é aconselhável pois assim nunca conseguirá concentrar-se verdadeiramente no que está a fazer, mas está sempre a pensar nas outras tarefas.
  7. Conte histórias que sejam estimulantes para a criança e nos dias seguintes vá pedindo para ela contar partes da mesma. Assim ela teve de estar atenta à história para depois a conseguir reproduzir.
  8. Jogue com a criança jogos que tenham regras. Assim para além dela ter de as cumprir, também tem de estar atenta para verificar se os outros jogadores também estão a cumprir. As crianças são competitivas e portanto torna-se algo desafiante para elas.
  9. Há alguns jogos que tipicamente estimulam a concentração e que a maioria das crianças gosta de fazer. Exemplos: xadrez, puzzles, legos, encontrar diferenças. Estimule a que ela todos os dias jogue esse tipo de jogos, pois vai estimulando essa capacidade de concentração.
  10. Inclua actividades que exigem sequência e organização, pois estas vão estimular o cérebro a manter uma linha de raciocínio e fortalecer a concentração. Como exemplo desse tipo de actividades, podemos referir o colocar objectos em ordem alfabética ou separar brinquedos seguindo critérios específicos (por cor, por tamanho…).
  11. Perceba qual o tipo de tarefas que a criança se sente mais envolvida. Algumas crianças preferem realizar actividades práticas e concretas, enquanto outras se concentram melhor quando há recursos visuais para ajudá-los.
  12. Procure actividades que o seu filho demonstre maior interesse para começar e vá direccionando para aquelas que são mais complexas. Cada criança tem o seu ritmo e devemos respeitá-lo.

Implemente essas estratégias e dê-nos o seu feedback. Ajudou?

Cátia Lopes

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Dia dos namorados!

on 14 Fevereiro, 2018

Hoje é o dia mais romântico do ano: celebra-se o amor.

A música diz-nos que “o amor é mágico”. Camões comparava-o a um “fogo que arde sem se ver”, Álvaro de Campos chamava-o de “ridículo” e Fernando Pessoa escreveu que “quem quer dizer o que sente, não sabe o que há-de dizer”. São milhares os poemas, as cartas, as músicas e as pessoas que tentam descrever, das mais variadas formas, este sentimento que toma de assalto os nossos corações e as nossas vidas. Talvez seja das palavras mais difíceis de descrever e de expressar sob a forma de vocábulo. A sua complexidade e plenitude exigem reflexão e sensibilidade na sua compreensão. Para mim, o amor não se explica: sente-se, vive-se e respeita-se, de forma singular.

Quando falamos de amor, falamos da maior força humana. Aquela que move montanhas, ultrapassa preconceitos e nos torna mais humanos. O amor enche a nossa vida de cor e de sentido. Liberta o que de melhor há em nós e imprime o desejo de ser e de fazer os outros felizes.

O amor está nos gestos mais simples: Está numa troca de olhares, num beijo apaixonado e numas mãos entrelaçadas; Está num abraço de conforto e num cuidado recíproco; Está na cumplicidade, na cedência e na tolerância; No respeito e na escuta ativa; Está na partilha e na liberdade; Na saúde e na doença; Na felicidade e na tristeza; Está na distância e na saudade. O amor está sempre, em nós e entre nós.

Amar é um mar de experiências, de aprendizagens e de investimento. Acredito que é a força motriz da nossa alma – como dizia Florbela Espanca – e, por isso, desejo que todos nos deixemos amar, perdidamente. Se apenas se consegue ver bem com o coração, porque o essencial é invisível aos olhos (Antoine de Saint Exupery), então deixo-vos com esta questão:

– O que podemos fazer nós, criaturas, senão amarmos? (Carlos Drummond de Andrade)

Isa Viamonte

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Será possível sair de casa com calma?

on 9 Fevereiro, 2018

Todas as pessoas que têm filhos queixam-se imenso que de manhã é sempre tudo caótico!

Ou porque as crianças não se querem levantar e pedem sempre mais um bocadinho, ou porque não se despacham a comer, ou porque não querem vestir aquela roupa, ou porque simplesmente se esquecem de tudo, e a família toda tem de voltar para trás.

É muito frequente estarmos à porta das escolas e vermos os pais a “resmungar” com os filhos porque já vão atrasados, a saírem do carro em toda a velocidade e irem buscar as várias mochilas que as crianças têm de levar com elas…

Em resumo, podemos dizer que o dia começa sempre com uma grande agitação e que a chegada ao trabalho quase que funciona como o momento de relaxar finalmente.

Será possível contrariar isto?

Considero que fazer isso todos os dias de forma calma e serena é impossível, mas podemos certamente tentar diminuir um pouco toda esta agitação e conseguir ter uma manhã mais positiva.

Assim sendo, deixo aqui algumas dicas que podemos implementar no dia-a-dia.

  1. O descanso é fundamental – Se a criança não descansou o suficiente durante a noite, ou mesmo se os pais não descansaram, é certo que o limite de tolerância está mais baixo e é mais provável que haja divergências.
  2. Calcular o tempo necessário – É fundamental perceber qual é o tempo que necessitamos para fazer todas as tarefas necessárias sem andarmos a correr de manhã. Quanto tempo demoramos a tomar banho, quanto tempo demoramos a arranjarmo-nos, quanto tempo demoramos a vestir as crianças (ou pelo menos orientá-las), quanto tempo para tomar o pequeno almoço em família, quanto tempo para fazer camas… Cada casa certamente tem as suas regras matinais e devem ser analisadas e planeadas e deixar sempre uns 10 minutos extra para imprevistos.
  3. Planeamento de véspera – Quanto mais as coisas tiverem organizadas de véspera mais tempo se poupa de manhã e principalmente diminui o erro de esquecimentos. Assim, será importante preparar tudo o que for possível de véspera: lancheiras prontas, mochilas arrumadas, roupa escolhida, mesa de pequeno almoço colocada, entre outras. O ideal é ficar já tudo na entrada de casa para que nada fique descurado.
  4. Todos saberem quais as suas tarefas – é importante autonomizar os miúdos e todos devem participar nas tarefas, desde que estas sejam adequadas para a sua idade. A criança deve saber exactamente o que tem de fazer de manhã e seguir uma rotina que lhe facilite. Ao sentir-se mais autónoma vai cooperar mais, logo vai haver momentos de maior descontracção familiar.

Espero que as dicas sejam úteis.

Um feliz dia para todos!

Cátia Lopes

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