Outubro 2022

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Anafilaxia: impacto na qualidade de vida

on 14 Outubro, 2022

Apesar do número de estudos do impacto da qualidade de vida em doentes com anafilaxia ter vindo a aumentar nos últimos anos, ainda se verifica uma grande lacuna nesta área de investigação.

Sabemos que uma reação anafilática pode ser traumática e pode trazer desafios adicionais. Alguns estudos relatam que jovens adultos alérgicos a alimentos, que sofreram reações anafiláticas, apresentavam níveis de ansiedade elevados e os seus pais eram mais protetores do que pessoas alérgicas que não tiveram reações graves.

Num sistema de saúde em que a abordagem centrada no doente é agora favorecida, a pesquisa sobre a qualidade de vida em pacientes com anafilaxia pode fornecer meios para melhorar a sua gestão, o cuidado e as experiências dos pacientes, mas também das suas famílias.

É evidente que a experiência da anafilaxia tem um impacto psicossocial nas crianças, adolescentes, adultos e também nas suas famílias. Em particular, a constante vigilância necessária, a evicção alimentar restrita e a experiência diária de gerir a doença têm um impacto direto nas atividades diárias, pelo que é importante avaliar ao longo do tempo esse impacto.

Por vezes, é importante envolver os adultos na compreensão das suas emoções e torná-las mais adaptativas. Após uma reação anafilática, os doentes podem sentir alguma vergonha ou perda de confiança no exterior, que pode levar a um medo de julgamento e potencial isolamento social. Nalguns casos podem mesmo não ser capazes de identificar quais os sentimentos que experienciaram e que implicações isso está a ter no seu dia-a-dia.

A intensidade  e a complexidade das reações emocionais pós-anafiláticas têm muitas vezes influência na qualidade de vida desse doente, assim como a idade, o género, o país e a cultura. Estudos relatam que normalmente mulheres têm indicadores piores de qualidade de vida a gerir a doença dos seus filhos do que os homens, enquanto os adolescentes estão em maior risco de reações adversas relacionadas com a sua autonomia.

Percebemos que o risco de ter uma reação está sempre presente, sendo que o quando, como e onde ter essa reação pode aumentar o medo, ansiedade, vergonha ou frustração sentida e, consequentemente, ter um maior impacto na qualidade de vida do paciente que experienciou a anafilaxia.

É relevante continuarmos na direção das abordagens multidisciplinares, com uma equipa de cuidados integrados que pode consistir no imunoalergologista, enfermeiros psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, entre outros. Esta abordagem multidisciplinar pode preencher a lacuna entre atender apenas às necessidades físicas do paciente e atender também às necessidades psicossociais dos indivíduos que já experienciaram uma anafilaxia.

Esta perspetiva de atenção biopsicossocial integrada, onde profissionais médicos e outros profissionais de saúde mental trabalham em colaboração com pacientes pós-anafilaxia, pode ser relevante no trabalho terapêutico destes doentes e, consequentemente no aumento da sua qualidade de vida.

Cátia Lopes

 

(artigo publicado aqui)

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