Acredito que ter um filho(a) é ter sido presenteado com o
dom da vida. Ainda assim, também sei que ser pai ou mãe, é um tremendo desafio.
E por essa razão, relaciono muitas vezes a parentalidade
à gratidão. “Como assim?!”, estarão desse lado a pensar…
Vamos por partes…
O que é “gratidão”?
Considero a gratidão
um dom. Um dom que cada um de nós tem, diariamente, a opção de se presentear.
Basta, para isso, tomar consciência de situações pelas quais podemos ser
gratos, alinhando a nossa atitude nesse sentido.
O que é “atitude”?
Atitude não significa comportamento em si, mas antes uma
predisposição para pensar se agir de determinada maneira, perante um estímulo
social (seja uma pessoa, uma situação ou um acontecimento). É como se fosse um
padrão de ideias ou uma forma de organizar/processar informação.
Neste sentido, as atitudes
precedem a ação (sejam palavras, comportamentos, escolhas ou ausência delas) e,
como tal, exercem uma importante função cognitiva e de regulação do
comportamento. Porquê? Porque este mesmo comportamento pode derivar em
resultados favoráveis ou desfavoráveis.
O que tem “gratidão”
a ver com “atitudes”?
A gratidão é uma atitude!
O autor Jon Kabat-Zinn[1],
Médico e Mentor ocidental do Mindfulness
– também conhecido por prática da atenção plena ou presença consciente – incluiu
a Gratidão nas suas 9 atitudes de Mindfulness[2].
A gratidão, segundo o seu mentor, tem demonstrado ser uma
das atitudes mais positivas a
cultivar, já que demonstrou ter um relacionamento único e poderoso com o nosso bem-estar.
O que faz o
Mindfulness?
A origem do Mindfulness advém das práticas budistas com mais
de 2500 anos. Mas foi em 1979 que começou a ser difundido e usado para fins
terapêuticos no ocidente por Jon Kabat-Zinn e seus colaboradores, na Clínica de
Redução de Stress da Universidade de
Massachusetts, através de programa denominado de MBSR Mindfulness Based Stress
Reduction. Este programa também já se encontra disponível em Portugal.
Em Mindfulness, a observação
do momento presente faz-se livre de julgamentos, uma observação consciente e
propositada, sem certo nem errado, sem
julgamento e com atenção e presença
consciente no aqui e agora – o que de si já é libertador!
Só podemos estar e ser gratos quando estamos cientes do
momento presente. E o Mindfulness é o ponto de partida para a gratidão.
Gratidão na
Parentalidade
Relaciono, frequentemente, o dom da gratidão com o dom da
parentalidade. E tal só é possível se nos tornarmos conscientes dos momentos em
que estamos presentes.
A parentalidade é uma função que não requer experiência
prévia na área, nem habilitações académicas que certifiquem os pais a saber
sê-lo, de acordo com um determinado molde pré-definido de “pais perfeitos –
filhos perfeitos”. E os filhos também não nos chegam com livros de instruções.
Pela exigência constante a que os pais são sujeitos, a
parentalidade consegue provocar uma autêntica montanha russa de emoções (e ações), sendo que, já todos
percebemos por experiência própria, as emoções mais desagradáveis são as que
têm mais impacto e tendem a perdurar mais tempo.
Com a prática,
treina-se a resiliência
O termo “resiliência”
surgiu com os estudos de Boris Cyrulnik[3]
sobre a diversidade de reações após momentos potencialmente traumáticos (após a
II Guerra Mundial).
Cyrulnik referia que “a
nossa história não determina o nosso destino” já que somos nós quem decide
como encarar os acontecimentos, ou seja, escolhemos uma forma consciente de
processar a informação.
Ainda segundo o autor, “os
resilientes nunca perdem a capacidade de ver que as coisas podem melhorar no
futuro, embora o presente seja doloroso”. Todas as experiências, quer sejam
agradáveis, quer sejam desagradáveis, são igualmente úteis! E tudo que vem,
fica um pouco, e vai. É este o ciclo (e impermanência) da vida.
Por esta mesma razão, a prática da atitude da gratidão na parentalidade,
permite aos pais tornarem-se, progressivamente, mais conscientes. E esta tomada
de consciência, tende a proporcionar-nos perspectivas diferentes, construtivas
e resilientes.
Psicologia
Positiva
Não é demais relembrar que o movimento da Psicologia Positiva surgiu para equiponderar
a reputação que a Psicologia foi adquirindo ao longo da sua existência,
associando-se a esta ciência conceitos de doença, patologia e tratamento.
A psicologia positiva veio afirmar e reforçar todo o
potencial positivo do ser humano, criando uma atuação de prevenção, motivação,
abertura a novas possibilidades. E por “positivo”, entenda-se, construtivo,
evolutivo, útil. E o estudo do conceito de resiliência encontra a sua orientação
na psicologia positiva!
Parentalidade
Consciente
Com os contributos do Mindfulness e da Psicologia Positiva,
os pais de hoje, têm todo o potencial para praticarem uma parentalidade consciente, tornando, assim, esta experiência única
no mais intensivo curso de
desenvolvimento pessoal.
E eu, como mãe, sou grata por todos os momentos impactantes
de aprendizagem que os meus filhos me proporcionaram. Pois todos eles foram
úteis para me ajudar a tornar em quem eu quero ser.
Aos pais que, que gostariam de levar a sua parentalidade a
um nível ainda mais consciente, estarei por aqui, disponível para ajudar e
crescer nas partilhas. E a gratidão por terem chegado até aqui, é um belíssimo
ponto de partida.
Até breve?
[1]
Professor Emérito em Medicina; fundador da Clínica de Redução do Stress e do
Centro de Atenção Plena, na Universidade de Medicina de Massachusetts.
Praticante de Yoga e Budismo; membro fundador do Centro Zen de Cambridge.
[2] https://www.spm-be.pt/2014/12/9-atitudes-de-mindfulness-kabat-zinn.html
[3] Cyrulnik
estudou medicina na Universidade de Paris e formou-se em Psicanálise e
Neuropsiquiatria, determinado a compreender os acontecimentos da sua própria
vida. Dedicou a sua carreira maioritariamente ao estudo e tratamento de
crianças traumatizadas.
Joana Madureira
Psicóloga, Formadora
e Tutora
Facilitadora de
Parentalidade Consciente
Mentora da Schola – Educar para a Felicidade
[1]
Professor Emérito em Medicina; fundador da Clínica de Redução do Stress e do
Centro de Atenção Plena, na Universidade de Medicina de Massachusetts.
Praticante de Yoga e Budismo; membro fundador do Centro Zen de Cambridge.
[2] https://www.spm-be.pt/2014/12/9-atitudes-de-mindfulness-kabat-zinn.html
[3] Cyrulnik
estudou medicina na Universidade de Paris e formou-se em Psicanálise e
Neuropsiquiatria, determinado a compreender os acontecimentos da sua própria
vida. Dedicou a sua carreira maioritariamente ao estudo e tratamento de
crianças traumatizadas.
Ler mais