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A gravidez, o pós-parto e a saúde mental

on 9 Setembro, 2019

Hoje todas as grávidas estão de parabéns, por isso, aproveitamos este dia para lhes dedicar a nossa atenção. 

A preparação para o nascimento de um filho é um grande acontecimento de vida e, independentemente da forma como a gravidez é vivida, é um momento particularmente stressante na vida da mulher.

As alterações físicas, psicológicas, o trabalho de parto e a responsabilidade de trazer uma criança ao mundo pode levar, muitas vezes, ao chamado “baby blues”, um estado de tristeza e choro fácil associado a uma sensação de mal-estar e ansiedade, na maioria das vezes sem motivo. De natureza transitória e de origem hormonal, acomete entre 40 e 80% das puérperas e ocorre nas 4 semanas seguintes ao parto (Costa, 2015). Se a sintomatologia persistir pode requerer especial atenção.

Estima-se que 3 a 6% das mulheres experienciarão um episódio depressivo durante a gravidez ou nas semanas ou meses após o parto (APA, 2014).  A depressão pré-natal ocorre em 10 a 20% das mulheres grávidas e é um dos preditores mais consistentes da depressão pós-parto. Durante a gravidez é importante estar atenta aos seguintes sintomas:

  • Choro frequente;
  • Perturbações de sono;
  • Fadiga;
  • Perturbações alimentares;
  • Perda significativa ou incapacidade de sentir prazer em atividades que antes eram consideradas agradáveis;
  • Ansiedade;
  • Dificuldade de estabelecer ligação com o feto;
  • Irritabilidade.

Por sua vez, a depressão pós-parto ocorre entre 10 a 15% das mulheres e caracteriza-se pela ocorrência de um episódio depressivo major, no período pós-parto. Dada a prevalência e consequências para a mãe e para a criança, importa perceber a sintomatologia específica associada a esta condição, muitas vezes difícil de identificar (devido, por exemplo, ao estigma ou à dificuldade de interpretação dos sintomas) (Fonseca & Canavarro, 2017):

  • Flutuações de humor;
  • Preocupação excessiva com o bem-estar da criança;
  • Sentimento de incapacidade, inadequação ou culpa;
  • Medo de estar sozinha com o bebé;
  • Medo de sair ou magoar o bebé;
  • Dificuldade de estabelecer ligação com o bebé;
  • Diminuição do desejo sexual pelo parceiro;
  • Queixas físicas frequentes, tais como fadiga, dores de cabeça, falta de apetite;
  • Dificuldade de concentração e tomada de decisão;
  • Perda de interesse em cuidar de si;
  • Ansiedade associação à sintomatologia depressiva.

Se reconhece estes sintomas e está grávida ou é puérpera procure ajuda profissional. Nós podemos ajudá-la a desfrutar deste momento de forma tranquila.

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Dia do Filho do Meio

on 12 Agosto, 2019

Hoje, 12 de Agosto, comemora-se o Dia do Filho do Meio.

Quem o tem diz que o primeiro filho é especial e o líder dos restantes e o filho mais novo é o mais mimado, porque recebe todas as atenções da família. Assim sendo, o filho do meio fica geralmente numa situação complicada, sem um papel definido e sem a protecção que os outros filhos têm por parte dos pais. Foi para mimar e homenagear todos os filhos do meio do mundo que se criou o Dia do Filho do Meio.

Mas porque é que tem de existir um “dia do filho do meio” como se ele fosse, incontornavelmente, desigual? Sabe-se que entre irmãos saudáveis há uma rivalidade pelo amor e pela atenção dos pais que torna a relação fraternal semelhante à de “cão e gato”. Percebe-se que os pais nunca conseguem ser, milimetricamente, iguais e ser sempre justos em relação a todos os filhos. É comum que os filhos, logo que se sentem “discriminados” pelos pais, reclamam e protestam e, na maior parte das vezes, até têm razão. Crê-se que todos os filhos, independentemente do lugar que ocupam na fratria, já se sentiram “filhos do meio”, algumas vezes. Considera-se que quanto mais os pais condescendem com as atitudes que imaginam típicas de “filho do meio”, mais ele será “filho do meio”. E , por último, prevê-se que, muitas vezes, aquilo que mais cria o “síndrome do filho do meio” é o facto dos pais se terem sentido, eles próprios, filhos do meio, e essa experiência poder ter sido negativa.

A verdade é que se os pais se derem a todos os filhos como se eles fossem filhos únicos, não haverá mais “filhos do meio”. Mais importante do que existir um dia comemorativo do “filho do meio” será olhar para a importância do tempo que se pode dedicar a cada filho individualmente.

Quando se tem mais do que um filho, dificilmente se consegue ter muito tempo de qualidade para cada um. E quem tem mais do que um filho, sabe o quanto os irmãos podem ser a justa oposição um do outro. Se para os pais for importante respeitar a natureza de cada filho, educá-los da mesma forma poderá não dar o resultado pretendido. Daí que seja fundamental que os pais possam reservar um momento individual com cada um dos filhos. Este momento não deve ser quando calha ou quando dá jeito. Deve ser um tempo que os pais possam dispensar de acordo com a sua disponibilidade para estar só dedicados a um filho. Pode ser um dia, uma manhã, uma tarde, umas horas ou uns minutos, sempre na mesma altura, uma vez por semana, por mês ou o que ficar definido, mas que seja exequível, para que possa ser sempre cumprido e não haja desilusões, ou seria pior a emenda do que o soneto.

Isto é importante para a criança saber que tem um espaço seu, com o qual pode sempre contar. Não estica nem encolhe, tem um início e um fim determinado. Para que possa imaginar e programar o próximo encontro a dois (ou a três, se ambos os pais tiverem possibilidade).

São momentos em que o filho pode escolher o que quer fazer, dentro do razoável e permitido pelos pais, e em que se pode estar sem interrupções dos mais velhos ou dos mais novos, a ter conversas e brincadeiras adequadas à sua idade. Não se combina encontros com os amigos, nem se leva o filho ao parque enquanto se toma café na esplanada em frente. Este tempo é para outra coisa, é um momento de conexão e, muito provavelmente, de redescoberta. Assim consegue-se (re)conhecer ainda mais cada um dos filhos, olhá-lo de forma atenta e dedicar-lhe atenção e carinho em exclusivo.

Há quem não defenda este conceito, porque desde que têm irmãos os filhos deixam de ser únicos e ganham mais em dividir todo o tempo com os irmãos. Já não conseguem viver uns sem os outros e até ficam tristes se forem impedidos de estar juntos, apostando na promoção da relação familiar como um todo. Na verdade, as duas realidades podem ser conciliáveis, não têm se ser incompatíveis. Pode até começar-se por perceber se os filhos gostariam deste tempo e, mediante as idades, ouvir a opinião deles primeiro.

Todos os filhos, por mais irmãos que tenham, serão sempre únicos, na sua singularidade, e esta individualidade deve ser olhada e promovida. Quando estão todos juntos é normal que as personalidades e idades se dissipem, mas em momentos de maior euforia sentimos que os nossos braços não são suficientes para todos os abraços, ou que se atropelam e nenhum consegue acabar uma frase sem ser interrompido, ou fazer uma construção que o outro não faça desabar.

Esta partilha e este saber viver com o outro ensinam-nos a não estarem só centrados em si e a identificar a fratria como uma das relações mais importantes da vida, mas tal facto não impede que se possa ter um tempo unicamente seu, sem dividir o pai ou a mãe com mais ninguém.

E que os pais possam também saborear cada um, redescobri-lo e mimá-lo com um tempo de plena dedicação.

Marta Martins

Fontes:

“Semelhanças e diferenças entre irmãos” Otília Monteiro Fernandes

“Livro de reclamações das crianças” Eduardo Sá

“Crianças felizes” Magda Gomes Dias

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Alergia alimentar: a importância do olhar psicológico

on 8 Julho, 2019

A incidência da alergia alimentar, séria condição de saúde, tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, afetando número significativo de crianças e   de adultos. Suas únicas formas de tratamento e gerenciamento são evitar o contato com o alimento alergênico e a identificação e gestão adequadade tratamento dos sintomas de reação, em caso de exposição acidental.  

Após o diagnóstico de alergia alimentar, as famílias e os alérgicos enfrentam inúmeros desafios que vão desde a manutenção da dieta, ao conhecimento de produtos seguros, à procura de diversas receitas, ao estabelecimento de novas formas de viver e de se relacionar entre si e com todo o meio social em que está inserido. O receio de episódios de anafilaxia, a necessidade imperativa da dieta de restrição, assim como a vigilância necessária para evitar o alérgeno produzem  impacto significativo nas atividades diárias e qualidade de vida de toda a família, contribuindo para o aumento da ansiedade, do estresse, do sentimento de viver com risco e medo de uma reação inesperada e de conflitos relacionais. 

Não somente o aspecto biológico e o nutricional são impactados, mas também a rotina diária: a relação entre pais, com os irmãos, com a família extensa pode ficar fragilizada e distante, assim como a vida escolar, a vida social e financeira. E, diante de tamanhas mudanças e adaptações necessárias, precisam criar, praticamente, uma nova identidade familiar para se evitar o contato com o alérgeno. E, com isso, a qualidade de vida pode diminuir.

 Quando pensamos em alergia alimentar e em seus cuidados não podemos deixar de ter um olhar multidisciplinar. Precisamos compreender todo o contexto que envolve o alérgico, todos os aspectos da vida que podem ser impactados, sendo que os psicológicos também devem ser considerados e cuidados diante das demandas acima colocadas.

Mas como a psicologia, um acompanhamento psicológico, pode contribuir para auxiliar no cuidado com as famílias que convivem com a alergia alimentar? Em diversos pontos, mas ressaltaremos aqui, três que consideramos relevantes:  

 O primeiro com que a psicologia pode contribuir, refere-se ao reconhecimento. É oferecer um espaço e uma escuta para que as famílias se sintam acolhidas e reconheçam sua dor, sua ansiedade, estresse e medo relacionado às reações. Há que validar de fato, uma dificuldade no gerenciamento da rotina diária e que esses sentimentos das pessoas alérgicas e suas famílias são legítimos e geram um sofrimento interno e relacional que precisa ser cuidado. Dessa forma, a família poderá se sentir apoiada, acolhida e compreendida empaticamente.

 Outro aspecto que gostaríamos de salientar e que o atendimento psicológico pode auxiliar, é ajudá-la a identificar quais são os recursos internos de cada membro e que recursos do sistema familiar como um todo, ela tem, para lidar com os desafios impostos pelo gerenciamento da alergia alimentar. Compreenderia a verificação de quais as características internas que eles possuem e que podem facilitar o manejo da alergia alimentar e ajudá-los a utilizar esses importantes instrumentos que já têm em mãos para melhorar a qualidade de vida de todos. 

O terceiro ponto que consideramos de imprescindível contribuição de um atendimento terapêutico, é auxiliar as famílias e os alérgicos a identificarem que aspectos ou modo de vida foram mais afetados e impactados com a descoberta e com os cuidados necessários ao gerenciamento da alergia alimentar: foram os relacionamentos? Foi a dificuldade na manutenção da nova rotina, evitando o alérgeno? Foi a vida social e/ou escolar? Ajudar nesta identificação facilita pensar em estratégias de enfrentamento positivas para os alérgicos e suas famílias para lidar de forma diferenciada e mais assertiva a fim de diminuir o sofrimento psíquico e melhorar a vida como um todo.

A psicologia, com um olhar mais atento, cuidadoso e acolhedor para os alérgicos e suas famílias que são únicas e singulares,  pode contribuir , portanto, no intuito de reconhecer o sofrimento para apoiar, identificar os recursos positivos da família para que ela possa utilizálos para lidar com a alergia e facilitar o dia a dia e identificar os pontos de dificuldades da famílias e auxiliá-las  a pensar em formas de enfrentamento positivas e no estabelecimento e construção de novas estratégias mais produtivas e eficazes.

 Dessa forma, as famílias poderão estabelecer uma melhor qualidade de vida, diminuindo conflitos internos, relacionais, ansiedade e estresse e, primordialmente, seguir a vida a despeito da alergia alimentar e não em função dela. 

Erika Gomes

Autora da página Psi pelo Mundo – Alergia Alimentar

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A violência contra a pessoa idosa é um problema social.

on 15 Junho, 2019

Dia 15 de junho comemora-se o Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa. Os crimes de violência praticados contra as pessoas idosas por parte de familiares e/ou instituições são infelizmente uma realidade presente na nossa sociedade.

Este problema começou a ser reconhecido como um grave problema social no início dos anos 80 do século XX através da denúncia por parte de profissionais que trabalhavam diretamente com as pessoas idosas vitimadas.

A Organização Mundial de Saúde (2002), na Declaração de Toronto Para a Prevenção Global do Mau Trato a Pessoas Idosas, define violência contra as pessoas idosas como: “um ato único ou repetido, ou falta de ação apropriada, ocorrendo em qualquer relacionamento onde exista uma expectativa de confiança, que cause dano ou sofrimento a uma pessoa idosa(p. 332, tradução nossa).  

Deste modo, percebe-se que este tipo de violência, que atenta contra os Direitos Humanos da pessoa idosa, pode ser preconizada por pessoas com uma relação de proximidade com o/a idoso/a como o/a cônjuge, parceiro/a, filho/a ou outro familiar, amigo/a, vizinho/a ou cuidador/a, do qual dependa.

Esta data comemorativa foi criada em 2006 pelas Nações Unidas e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa, tendo como objetivo refletir numa questão social sensível e acabar com a violência contra a pessoa idosa.

Infelizmente, o mau trato contra a pessoa idosa é um fenómeno que vive do silêncio, seja por receio da vítima, seja pelo silêncio das pessoas que sabem destas situações, mas não as denunciam.

A violência preconizada por pessoas próximas como a violência institucional pode envolver várias formas de violência e implicar a prática de vários crimes (APAV, s.d.). Pode envolver negligência e abandono (e.g., má nutrição, desidratação; falta de condições de higiene do quarto e ou do próprio), violência física (e.g., arranhões, nódoas negras, fraturas ósseas), violência psicológica e/ou verbal (e.g., comentários depreciativos, isolamento), violência sexual (e.g., nódoas negras nos seios e ou genitais, hemorragia genital), violência económica/financeira (e.g., forçar a pessoa a assinar um documento, sem lhe explicar para que fim se destina, fazer levantamentos significativos da conta da pessoa idosa) bem como violência doméstica. De ressalvar que a violência psicológica ou verbal é a segunda causa mais comum de violência sobre as pessoas idosas, imediatamente a seguir à negligência (APAV, s.d.).

Dados da linha SOS Pessoa Idosa (800990100) revelou que em 2018 os casos reportados de violência sobre pessoas idosas aumentaram 20 por cento comparativamente ao ano anterior. São mais de 300 pedidos de ajuda feitos.

Não podemos esquecer que a pessoa idosa tem os mesmos direitos que qualquer outra pessoa, independentemente da sua idade e/ou da situação de dependência daí que a fiscalização seja fundamental e determinante para desocultar estas realidades e para garantir a dignificação da pessoa idosa. Esta fiscalização pode ser feita pelos organismos governamentais competentes, mas também é da responsabilidade das pessoas familiares, amigas e vizinhas.

Se souber e/ou suspeitar de alguma situação ligue 116 006 (dias úteis, das 09h às 21h) e/ou denuncie na página http://www.fbb.pt/sos/.

Joana Topa

Psicóloga

Referências

APAV (s.d.). Tipos de Violência e Crime. Disponível em: https://apav.pt/idosos/index.php

OMS (2002). Declaración de Toronto para la prevención global del maltrato a las personas mayores. Rev Esp Geriatr Gerontol, 37, 332-333.

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1 em 10 mulheres não pode celebrar este dia!

on 28 Maio, 2019

Hoje comemora-se o Dia Internacional da Saúde Feminina e infelizmente 1 em 10 mulheres não pode celebrar este dia. E é por esta percentagem ser tão elevada que me faz sentido escrever-vos hoje sobre Endometriose. Esta doença afeta mais de 10% das mulheres em idade reprodutiva e é a maior causa de Infertilidade feminina e, ainda assim, para uma grande percentagem das pessoas que me estão a ler neste momento é uma doença totalmente desconhecida.

Sendo a Endometriose uma das doenças ginecológicas mais comuns na mulher em idade reprodutiva, seria expectável que fosse também uma das patologias mais estudadas e melhor compreendidas. Contudo, e embora os últimos anos tenham sido ricos em estudos, havendo já um avanço significativo na compreensão da patologia, há ainda um longo caminho a ser percorrido para que as pacientes tenham respostas efetivas para todas as vertentes da sua vida afectadas pela patologia.

O que é a Endometriose?

O endométrio é a parte que reveste a zona interna do útero. Por ação hormonal, durante o ciclo menstrual, o endométrio sofre um processo cíclico de regeneração e descamação. Esta descamação é responsável pela menstruação. Quando as células que compõe o endométrio se encontram fora da parte interna do útero, ocorre a endometriose. Os locais normalmente afetados pela endometriose são as trompas de falópio, os ovários, a cavidade pélvica e ligamentos que sustentam o útero, mas pode também atingir outros órgãos como a bexiga, os ureteres, os intestinos, etc.

Os sintomas da endometriose:

_ Cólicas menstruais

_ Dores pélvicas intensas

_ Dor durante as relações sexuais,

_ Infertilidade

_ Menstruações abundantes e irregulares

_ Cólicas Intestinais com quadros de obstipação ou diarreia associados à menstruação

_ Dor ao urinar.

Todos estes sintomas têm um impacto na qualidade de vida conjugal, familiar, social e profissional o que contribui para elevados níveis de ansiedade e depressão. Esta é uma doença crónica, que não escolhe idades, raças ou credos. É uma doença que pode aparecer na nossa vida a qualquer altura e quando menos esperamos. Para que se evitem quadros mais complexos o diagnóstico precoce é um grande aliado. Ter dor não é normal! Se apresentar alguns destes sintomas consulte o seu ginecologista!

Susana Fonseca

Presidente da MulherEndo

www.mulherendo.pt

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Mediação de conflitos

on 15 Maio, 2019

Todos os dias nos deparamos com situações de conflito. Seja em casa, seja no trabalho, seja no supermercado, na sala de espera do consultório ou na paragem do autocarro.

Do ponto de vista do senso comum, o conflito é considerado uma ocorrência negativa, que deve ser evitada, por causar desequilíbrios nas pessoas, nos grupos e nas organizações. Contudo, e por outro lado, o conflito também pode ser útil e ter resultados positivos, sendo um fator de motivação e de desenvolvimento de competências relacionais, como por exemplo, a comunicação, a tolerância, a empatia, a escuta ativa, a assertividade e a criatividade. A atribuição de significados ao conflito depende do modo como é enfrentado e resolvido.

A mediação de conflitos é uma resposta eficaz e eficiente para situações de conflito. Trata-se de um método de resolução de conflitos em que duas ou mais partes em confronto recorrem, voluntariamente, a uma terceira pessoa imparcial e neutra/isenta, o mediador, a fim de chegarem a um acordo satisfatório. Trata-se de um método alternativo, uma vez que é extrajudicial e promove a procura de soluções que satisfaçam as necessidades das partes, não se restringindo ao que a lei impõe. A solução para o conflito é encontrada através da negociação e implica a decisão e participação dos implicados no processo conflituoso.

Quem orienta este processo de negociação cooperativa é o mediador de conflitos.

Um bom mediador deve:

  1. Estabelecer as regras.

A mediação é um processo formal que pressupõe um conjunto de regras e formalidade que o mediador deve garantir para o funcionamento adequado de uma mediação.

  • Não julgar.

Os conflitos não devem ser encarados como algo negativo ou positivo, como alguém estando certou ou errado ou ser culpado ou inocente… Trata-se apenas de canalizar a comunicação para a ampla análise e compreensão do conflito e na forma como este pode e deve ser abordado. Assim, o mediador não age como um juiz ou um conciliador ou um árbitro, mas funciona sim como um facilitador da compreensão das partes das narrativas de cada um.

  • Escutar ativamente.

O papel do mediador centra-se na escuta ativa e na empatia, isto é, na capacidade de compreender e fazer compreender as pessoas afetadas por um conflito e sem nunca atribuir juízos de valor. Uma das técnicas da escuta ativa passa por parafrasear, isto é, o mediador repetir com as palavras utlizadas pelos envolvidos o que foi dito. Esta técnica permite que as pessoas afetadas pelo conflito ouçam as palavras que pronunciaram por uma pessoa neutra ao conflito. Desta modo é possível criar condições para assumir que por vezes há diferenças entre o que é dito, o que se entende e o que os outros entenderam.

  • Respeitar a confidencialidade.

Um dos princípios da mediação assenta no exercício e direito à confidencialidade das pessoas que aceitam aderir a um processo de mediação. A confidencialidade é o ponto de partida para gerar confiança e segurança das partes envolvidas.

  • Transformar o conflito.

A partir dos pressupostos da negociação cooperativa e da comunicação colaborativa, o mediador deve garantir condições criar opções que ajudem a resolver o conflito de forma satisfatória.

  • Não dar soluções.

O mediador não resolve o conflito. Este facto é uma realidade que normalmente os visados numa situação de conflito têm dificuldade em compreender. O conflito é resolvido pelas pessoas envolvidas na situação de acordo com as suas necessidades, os seus interesses, os seus valores e princípios, dentro a sua conceção e representação do que é adequado ou não. Ou seja, o mediador ouve, esclarece, cria opções, mas não apresenta a solução ou as soluções para qualquer conflito.


Mónica Nogueira Soares

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A Perturbação do Espectro do Autismo

on 2 Abril, 2019

A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) representa um diagnóstico do Neurodesenvolvimento, globalmente caracterizado por alterações ao nível da interação, da comunicação, do comportamento e do processamento sensorial, numa perspetiva precoce e transversal do desenvolvimento. Este quadro, mais prevalente no sexo masculino (4:1), apresenta uma considerável variabilidade interindividual, requerendo uma abordagem especializada que reconheça o perfil individual de PEA.
A PEA representa um quadro ainda pouco conhecido ao nível da Comunidade Global, existindo ainda muitas ideias pré-concebidas. Ter uma PEA não condena forçosamente o indivíduo a uma vida sem autonomia, aspirações ou realizações pessoais e profissionais, principalmente nos casos de alto funcionamento. Não, nem todas as pessoas com PEA não olham nos olhos, nem todos não procuram a interação social, nem todos não suportam o toque, nem todos apresentam estereotipias severas. Muitos adultos com PEA casam, têm filhos e trabalham. Não, a PEA não é causada por vacinas e sim o Síndrome de Asperger é uma forma de PEA.
É importante existir um investimento social generalizado a toda a Comunidade ao nível da sensibilização, informação e formação, com destaque para os contextos da Educação e da Saúde visando a deteção e a intervenção precoces. As famílias dos indivíduos que apresentam PEA devem ser envolvidas e beneficiar de apoio regular, agregando um aconselhamento sistemático. Os Municípios também devem estar atentos a estas necessidades, fomentando ou apoiando iniciativas neste sentido.
A PEA não é uma doença. Se conhece um autista, apenas conhece UM autista. Ter uma PEA é ter um funcionamento diferente, mas não nos podemos esquecer que a espécie humana é caracterizada por neurodiversidade. De certo, os indivíduos que apresentam PEA necessitam de apoio profissional, nomeadamente para compreender o que é a PEA e no sentido de colmatar as dificuldades que podem experienciar, em função do perfil individual de PEA.
Neste dia Mundial da Consciencialização para o Autismo, apresento o meu cumprimento de honra a todas as Pessoas com PEA, Famílias, Amigos e Profissionais que diariamente lidam com a PEA, a todos que lutam contra os estigmas, a todos que promovem iniciativas de informação e a todos que acarinham e se interessam por esta temática.

“Comprendre et accepter l’autre, c’est l’écouter sans a priori, c’est “entendre” sa différence et rencontrer son indicible richesse”

(Josef Schovanec, filósofo, escritor e tradutor francês, ativista na área do Autismo)

Charlotte Coelho

Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde
Especializada na Perturbação do Espectro do Autismo
Fundadora Departamento de Intervenção na PEA

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Durma bem, durma o suficiente para recuperar a energia

on 15 Março, 2019

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Sono, uma data que pretende divulgar e alertar para a importância da qualidade do sono e para os riscos associados a uma má higiene do sono.

Para uma maior e melhor qualidade de vida, todos devemos procurar dormir tempo suficiente para recuperar a energia, a vitalidade e as funções cognitivas fundamentais para o bom funcionamento físico e mental. De facto, o sono ocupa cerca de 1/3 da vida de cada um de nós.

Os problemas de sono são bastante comuns. Pensa-se que uma em quatro pessoas experiencia problemas com o sono, sendo a perturbação mais frequente a insónia, afetando cerca de 10 – 15% da população. A regulação do sono está dependente de mecanismos internos tais como o ciclo circadiano e a produção de melatonina, e por condicionantes externos, dos quais destacamos a idade, a exposição à luz, a temperatura, o ruído e alguns medicamentos.

Dormir bem é, pois, essencial para um bom envelhecimento e como tal, quando sentirmos que algo não está bem com o sono ou porque sonhamos muito, sentimos sonolência, despertamos precocemente ou acordamos consecutivamente durante a noite, temos dificuldades em adormecer ou em realizar as atividades do dia-a-dia, sentimos dificuldades na memória, concentração e no processamento de informação devemos procurar um especialista na área, para que o problema possa ser identificado e resolvido precocemente.

Aproveitamos este dia para deixar algumas dicas para uma boa higiene do sono:

 

– Reservar o quarto apenas para dormir

– Manter uma rotina antes de deitar

– Não ingerir líquidos em excesso antes de deitar

– Ter uma alimentação equilibrada

– Não ir para a cama sem sono

– Não dormir durante o dia (as sestas não devem ultrapassar os 30 minutos)

– Estabelecer um horário regular para levantar

– Não verificar as horas durante a noite

– Não se esforçar por dormir

– Evitar bebidas estimulantes.

Não há dúvida de que depois de uma noite de sono reparador, sentimo-nos mais alerta, mais funcionais e mais felizes.

 

Helena Andrade
Mestre em Psicologia da Saúde e Reabilitação Neuropsicológica

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Ansiedade

on 22 Outubro, 2018

A ansiedade tem sido descrita como um problema de saúde pública com grande incidência em Portugal, que afecta os adultos mas também as crianças e adolescentes.

Pode-se descrever ansiedade como um estado mental e emocional normal e até protector nalgumas etapas da nossa vida, mas quando é demasiado frequente/excessivo, e sentido sem uma razão aparente, pode tornar-se patológico.

Sabia que 1 em cada 10 crianças tem sintomas de ansiedade?

A Ansiedade enquanto patologia torna-se extremamente incapacitante e limitadora e portanto é importante diagnosticá-la em fase precoce de forma a diminuir as suas repercussões.

Nós podemos ajudá-lo!

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Adolescência

on 8 Maio, 2018

Se este título o/a interessou talvez tenha um adolescente em casa.

A adolescência é uma etapa de desenvolvimento essencial e muito desafiante. O lado emocional amadurece mais rapidamente do que o racional, e é por isso que muitas vezes encontramos um desequilíbrio no comportamento dos adolescentes.

Muitas vezes, a partir de certa idade, verificamos uma alteração no comportamento da criança que pedia miminhos, que era afetuosa e meiguinha e que de repente parece mais distante.

A gestão parental na fase da adolescência requer, de facto, muita ATENÇÃO, ACEITAÇÃO e disponibilidade de TEMPO para que não haja um afastamento efetivo.

Sabemos que nestas idades a referência dos pais deixa de ter tanta importância quando comparada com a dos/as amigos/as. A influência dos/as amigos/as e a necessidade de serem aceites, acaba por os colocar em risco mais frequentemente. Assim, é necessário os pais estarem atentos, estarem presentes e dedicados a compreender esta etapa de desenvolvimento.

Deixamos aqui 5 dicas do que pode fazer:

1. OBSERVAR 

Observar é diferente de controlar o que o/a seu/sua filho/a anda a fazer. Se o/a seu/sua filho/a sentir que está a ser demasiado controlado/a revolta-se, mas isso não invalida que não deva estar atento e observar com atenção todos os seus comportamentos, assim como saber o que ele/a faz – saber o horário das aulas, saber onde vai depois das aulas, acompanhar os trabalhos de casa, etc. Só assim o/a conseguirá orientar e ajudar. É importante conhecer os/as seus/suas amigos/as e se possível acolhê-los em casa, de forma a conseguir observar e interagir com eles/as.

2. ESCUTAR

Estar disponível para escutar e ouvir com atenção o que o/a seu/sua filho/a quer transmitir. Quais as suas angústias, medos, sonhos e inseguranças. É importante ouvir as suas ideias, sem as desvalorizar .

Por um lado, há aqueles adolescentes que cada vez menos vão ter com os pais por sua iniciativa e nesse caso, tente proporcionar atividades com ele/a, proporcionar bons momentos em família. Não deve tentar ser o/a seu/sua melhor amigo/a, nem forçar conversas profundas que eles não queiram ter, mas se houver abertura por parte dos pais, eles próprios vão falar e estarão a fortalecer o vínculo entre pais e filho/a.

Depois temos aqueles adolescentes (em especial as raparigas) que chegam a casa e têm muita necessidade de falar tudo o que aconteceu com os/as seus/suas amigos/as. Nem sempre temos a disponibilidade certa para os escutar, mas é importante pararmos e ouvirmos com atenção e interesse. Se os adolescentes se sentirem escutados é mais provável que procurem os pais e os deixem orientar.

3. ACEITAR

Muitas vezes podem surgir conflitos inerentes a ideias e padrões distintos de haver dois tipos de gerações diferentes. É preciso fazer-se um esforço no sentido de aceitar isso mesmo, aceitar que os adolescentes vivem numa geração diferente da nossa, com novos paradigmas. O facto dos adolescentes se sentirem aceites irá promover uma confiança e um sentido de compromisso, pelo que não se tornam tão resistentes.

4. ORIENTAR

O facto de observarmos, escutarmos e aceitarmos o adolescente não quer dizer que ele não necessite de regras bem claras. A imposição de limites na adolescência é essencial e o adolescente tem de demonstrar ter responsabilidade no seu comportamento. Nesta etapa uma das negociações que mais surge como necessária, são as saídas à noite. Estas devem ser permitidas, mas sempre com regras claras: com quem vai, onde vai, qual o programa e qual a hora de chegada.

5. RESPEITAR A INTIMIDADE

Todas as pessoas têm a sua intimidade e esta deve ser respeitada, pelo que deve ser dado o espaço da privacidade que os adolescentes precisam, promovendo a sua autonomia e responsabilidade. Não se devem impor, é importante dar espaço, mostrando-se disponível e atento.

No entanto, também é muito importante promover momentos íntimos em família, pelo que deve haver momentos de convívio e partilha – exemplo: ver um filme e a comer pizza e pipocas ou um passeio especial.

Partilhamos ainda um link de um vídeo espanhol sobre esta temática:

 

Cátia Lopes

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