Julho 2019

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Alergia alimentar: a importância do olhar psicológico

on 8 Julho, 2019

A incidência da alergia alimentar, séria condição de saúde, tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, afetando número significativo de crianças e   de adultos. Suas únicas formas de tratamento e gerenciamento são evitar o contato com o alimento alergênico e a identificação e gestão adequadade tratamento dos sintomas de reação, em caso de exposição acidental.  

Após o diagnóstico de alergia alimentar, as famílias e os alérgicos enfrentam inúmeros desafios que vão desde a manutenção da dieta, ao conhecimento de produtos seguros, à procura de diversas receitas, ao estabelecimento de novas formas de viver e de se relacionar entre si e com todo o meio social em que está inserido. O receio de episódios de anafilaxia, a necessidade imperativa da dieta de restrição, assim como a vigilância necessária para evitar o alérgeno produzem  impacto significativo nas atividades diárias e qualidade de vida de toda a família, contribuindo para o aumento da ansiedade, do estresse, do sentimento de viver com risco e medo de uma reação inesperada e de conflitos relacionais. 

Não somente o aspecto biológico e o nutricional são impactados, mas também a rotina diária: a relação entre pais, com os irmãos, com a família extensa pode ficar fragilizada e distante, assim como a vida escolar, a vida social e financeira. E, diante de tamanhas mudanças e adaptações necessárias, precisam criar, praticamente, uma nova identidade familiar para se evitar o contato com o alérgeno. E, com isso, a qualidade de vida pode diminuir.

 Quando pensamos em alergia alimentar e em seus cuidados não podemos deixar de ter um olhar multidisciplinar. Precisamos compreender todo o contexto que envolve o alérgico, todos os aspectos da vida que podem ser impactados, sendo que os psicológicos também devem ser considerados e cuidados diante das demandas acima colocadas.

Mas como a psicologia, um acompanhamento psicológico, pode contribuir para auxiliar no cuidado com as famílias que convivem com a alergia alimentar? Em diversos pontos, mas ressaltaremos aqui, três que consideramos relevantes:  

 O primeiro com que a psicologia pode contribuir, refere-se ao reconhecimento. É oferecer um espaço e uma escuta para que as famílias se sintam acolhidas e reconheçam sua dor, sua ansiedade, estresse e medo relacionado às reações. Há que validar de fato, uma dificuldade no gerenciamento da rotina diária e que esses sentimentos das pessoas alérgicas e suas famílias são legítimos e geram um sofrimento interno e relacional que precisa ser cuidado. Dessa forma, a família poderá se sentir apoiada, acolhida e compreendida empaticamente.

 Outro aspecto que gostaríamos de salientar e que o atendimento psicológico pode auxiliar, é ajudá-la a identificar quais são os recursos internos de cada membro e que recursos do sistema familiar como um todo, ela tem, para lidar com os desafios impostos pelo gerenciamento da alergia alimentar. Compreenderia a verificação de quais as características internas que eles possuem e que podem facilitar o manejo da alergia alimentar e ajudá-los a utilizar esses importantes instrumentos que já têm em mãos para melhorar a qualidade de vida de todos. 

O terceiro ponto que consideramos de imprescindível contribuição de um atendimento terapêutico, é auxiliar as famílias e os alérgicos a identificarem que aspectos ou modo de vida foram mais afetados e impactados com a descoberta e com os cuidados necessários ao gerenciamento da alergia alimentar: foram os relacionamentos? Foi a dificuldade na manutenção da nova rotina, evitando o alérgeno? Foi a vida social e/ou escolar? Ajudar nesta identificação facilita pensar em estratégias de enfrentamento positivas para os alérgicos e suas famílias para lidar de forma diferenciada e mais assertiva a fim de diminuir o sofrimento psíquico e melhorar a vida como um todo.

A psicologia, com um olhar mais atento, cuidadoso e acolhedor para os alérgicos e suas famílias que são únicas e singulares,  pode contribuir , portanto, no intuito de reconhecer o sofrimento para apoiar, identificar os recursos positivos da família para que ela possa utilizálos para lidar com a alergia e facilitar o dia a dia e identificar os pontos de dificuldades da famílias e auxiliá-las  a pensar em formas de enfrentamento positivas e no estabelecimento e construção de novas estratégias mais produtivas e eficazes.

 Dessa forma, as famílias poderão estabelecer uma melhor qualidade de vida, diminuindo conflitos internos, relacionais, ansiedade e estresse e, primordialmente, seguir a vida a despeito da alergia alimentar e não em função dela. 

Erika Gomes

Autora da página Psi pelo Mundo – Alergia Alimentar

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